segunda-feira, 2 de novembro de 2009

E Camille Claudel

Impossível pensar em Rodin, sem evocar Camille Claudel, a meu ver, tão esquecida e neglicenciada.


Pessoalmente, prefiro suas esculturas, além de achar sua história tocante. Talvez tenha pirado por não ter recebido o reconhecimento que merecia.

Francesa, nasceu em 1864 e morreu em 1943.Irmã do poeta Paul Claudel.

 Incentivada pelo pai, pôde desenvolver sua vocação artística, dedicando-se aos seus primeiros estudos de escultura. Posteriormente, em 1881 (Camille com 17 anos) a família Claudel mudou-se para Paris, estimulada pela sugestão do escultor Boucher a Camille, que reconhecia nela um talento a ser desenvolvido e, pela preocupação de seu pai que procurava melhorar os padrões de educação e preparo dela e de seus irmãos. Em Paris, Boucher que orientava até então Camille Claudel, recomendou-a a Rodin. Ela viria a se tornar sua aluna, discípula, colaboradora e amante.


Após a ruptura, que marcaria profundamente Rodin e sua obra, o sentimento de fracasso afetivo e a solidão encaminharam a frágil estrutura emocional de Camille ao desespero, ao ressentimento e ao ódio de seu antigo companheiro. Passou a viver isolada em seu atelier, restrita a um espaço úmido e mal conservado em plena Ile de Saint-Louis, no coração de Paris. Após várias manifestações de uma paranóia persecutória, naufragada na miséria, na solidão e no desespero da falta de reconhecimento que lhe teria sido importante num dado momento, Camille passou a responsabilizar de maneira crescente a Rodin pelos seus insucessos e dificuldades,a ponto de colocar em risco sua própria vida. Vivendo pobremente, assistiu cerraram-se suas oportunidades como escultora uma vez que lhe faltavam encomendas para obras em espaços públicos, o que lhe atribuía a influências nefastas de seu antigo mestre. Passou a esculpir para logo em seguida, destruir e enterrar seus estudos e maquetes. Dessa maneira, melancolicamente foi internada por sua família num asilo de alienados, no ano de 1913, uma semana depois da morte de seu pai, que sempre a protegera e auxiliara na medida do possível. No hospício a que foi destinada, ficaria reclusa e quase esquecida de seus pouco amigos e familiares, até falecer em 1943. Procedeu-se assim numa espécie de condenação e cumprimento de uma silenciosa pena de prisão perpétua, que durou trinta anos e extinguiu a chama do talento e da vivacidade de uma grande escultora. Fonte: ArteVida
 


Uma mulher decide quebrar os laços com sua classe social, com a moral vigente e com as normas de conduta bem aceitas em sua época. Foi considerada louca, internada por 30 anos num hospital psiquiátrico – até sua morte – depois de entregar-se furiosamente a sua arte e a um mau amante, escultor abastado e famoso. Ele, o imperecível Auguste Rodin. Ela, a intuitiva e talentosa escultora Camille Claudel, personagem de filmes, razão de poemas, mulher arrasada, infeliz e mal compreendida. Ingredientes que tornam a sua biografia fascinante aos olhares curiosos. Tudo o que se acrescente como condimento de frescas novidades sobre esta escultora – vitimada mais pela sociedade que pela loucura – exerce, talvez por isso, um encanto hipnótico e avassalador.


Não se sabe porque cargas d’água uma certa “intelectualidade” sente prazer irresistível pela tragédia moral e exalta como ponto de virtude o sofrimento do artista. Ao que parece, quanto mais estilhaçados melhor; quanto mais dolorido, mais doce (veja-se o caso da pintora mexicana Frida Kallo, que atualmente tem suas obras em altíssimas cotações no mercado de arte). O que importa em Claudel; aliás, o que deveria importar num momento em que se faz a revisão de sua obra, seria destacar o seu alto valor estético, sua ruptura com uma manifestação escultural adormecida e que era já, depois de um certo tempo, construcção oficial das formas em Rodin. Deveriam ser exaltadas estas coisas, não sua desgraça.

Não se pode negar o gênio a Rodin, mas deve-se questionar o quanto de preconceito e de sua postura como inverso de mestre prejudicaram um talento manifesto. Que não era mais florescente apenas, mas que exigia ar e aparecimento: ela, Camille. Ela, que num sopro poderia ser, sim, mais do que ele. E isso lhe era insuportável.

Camille era pouco conhecida do público. O reconhecimento de seu talento ficava restrito a artistas e intelectuais, mas mesmo entre eles o seu comportamento incomum assumia feições de desvario. Sua família era rica, mas a adolescente apaixonada pela escultura não se deixava ficar entre rapapés, na condição de mulher passiva e obediente, à espera de um marido bem aquinhoado e cordato, largada das coisas impuras da arte. Muito pelo contrário. Desde menina fugia de casa para extrair barro para suas esculturas. A mãe, no entanto, se opunha à ambição de ser artista da pequena Camille. A sociedade francesa, preconceituosa e machista, também colocava muros à sua frente. Ela tentou passar por todos eles. Era mulher, e a escalada se tornava ainda mais difícil. O lance crucial de sua vida ocorreu quando decidiu empregar-se no estúdio do escultor Rodin, com quem pouco tempo depois passa a conviver na condição de amante.

A união marginal atiçava os comentários. Uma jovem impetuosa e um homem rico, famoso e mais velho, convivendo sem casar oficialmente... Mas o fator determinante para os transtornos que se seguiriam a essa união não partiram exatamente daí. Tratava-se, no fundo, de um embate de natureza artística entre a intuição criativa de Camille e o apuro conquistado em anos de estudo pelo escultor oficial do governo francês, Auguste Rodin .

O rompimento entre os dois era a única saída para a sobrevivência criativa da jovem aluna que abalara de forma tão radical o universo artístico de seu mestre. Rodin não admitia as diferenças de potencial criativo entre ele e Camille. Quando a artista percebeu estar sendo usada por Rodin, veio o rompimento.

Camille ficou só. O irmão Paul Claudel, poeta, viajara para os Estados Unidos e lhe faltava mais esse amparo. Passou a criar obsessivamente; percebia-se, contudo, que perdia a sanidade. O golpe final veio quando, durante uma exposição, não conseguiu vender nenhuma escultura. O fracasso, o álcool, e agora o descrédito, somados às suas muitas decepções, fizeram-na indignar-se a tal ponto que, em dado momento, destrói as peças que havia criado.

Acaba interna como louca.



Espantou-me em Paris, não encontrar seus trabalhos. Questionei uma funcionária do Museu Rodin. Havia uma única escultura dela, quando comentei o absurdo. A funcionária respondeu constrangida que o acervo de Camille estava em exposição no interior da França. Não acreditei.

Na biografia de Anne Delbée, lemos: "Camille olha para os dois bustos. Talvez não dê para dizer quem é Paul e quem é Camille, mas também não dá para dizer quem esculpiu, o sr. Rodin ou a srta. Camille!".


Segundo Liliana Liviano Wahba, a obra de Camille estava fora dos padrões e ela tinha uma maneira anticonvencional de esculpir. Sua habilidade de talhar o mármore era excepcional. Ia progressivamente, criando seu estilo. Valorizava sutilezas, evitando o nu exposto rodiniano, realçando drapeados, ondas de harmonia. Wahba acrescenta: "muitas esculturas de Rodin, produzidas após 1893, traziam temas que repetiam aqueles em que Camille tinha trabalhado, esculpindo ou ajudando a criá-los ou inspirá-los".


Pungente!!



Perfeito!!



Não sei se equivoco-me sobre a história. Li em algum lugar, que não localizei agora, que Camille esculpia mãos com grande perfeição e que muitas mãos das esculturas de Rodin seriam dela. Verdade ou não, alguns rascunhos e esculturas de Rodin ficaram com mãos inacabadas depois do internamento dela.




O filme sobre ela é demais:
Sinopse
Em Paris, em 1885, a jovem escultora Camille Claudel entra em conflito com sua família burguesa ao tornar-se aprendiz e, depois, assistente do famoso Auguste Rodin. Quando ela se transforma em amante do mestre (que já era casado), cai em desgraça junto à sociedade parisiense, embora tenha amigos do porte do compositor Claude Debussy. Depois de quinze anos de tortuoso relacionamento com Rodin, Camille rompe o romance e mergulha cada vez mais na solidão e na loucura. Por iniciativa de seu irmão mais novo, o escritor Paul Claudel, é internada em 1912 num manicômio.
Informações Técnicas
Título no Brasil: Camille Claudel
Título Original: Camille Claudel
País de Origem: França
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 166 minutos
Ano de Lançamento: 1988
Site Oficial: http://www.mgm.com/title_title.do?t itle_star=CAMILLEC
Estúdio/Distrib.: SPECTRA
Direção: Bruno Nuytten

Cartas do asilo: "Tem ele a intenção de me deixar morrer nos asilos de alienados? (...) Não fiz o que fiz para acabar minha vida como um mero número de uma casa de saúde".

Delbée: "Ela aguentou muito tempo. Sem armas, sem artifícios, sem fingimentos. Sem nada nas mãos. Aí está. Não tem mais cinzel, nem martelete, nem escultura. Tomaram tudo. Ela revê a velha Bíblia gasta pelo uso. Queria esculpir. Os pequenos contra os fortes, os grandes. Havia ainda tantas coisas. (...) Lá está ela, sem livros, sem barro, sem braço. A camisa de força".


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